A Harper’s Bazaar deste mês de julho traz um perfil de despedida do jornalista Michael Koellreutter, na página dupla Snapshot, assinada por Mario Mendes, com fotos de Tripoli e Lygia Durand.
Um admirável e talentoso transgressor, corajoso-frágil, afetuoso-maldito. O desejo de ser muito bom na linha jornalística que escolheu seguir era mais forte do que o senso de auto-preservação. Escrevia as matérias magistrais, com humor único e revelações estarrecedoras muito bem pesquisadas, e depois esperava encolhido o mundo explodir sobre sua cabeça. Mas não podia resistir à tentação de ser um excelente cronista ácido dos costumes das altas gentes. Em acertas horas de grande aperto, recorreu a meu auxílio contra a truculência de terceiros. Fiquei feliz de poder atendê-lo. Éramos amigos. Foi o mais audacioso dos jornalistas angry que conheci.
Desafiar convenções era seu lema. Chegou a morar dentro de um automóvel com a namorada, onde dormiam todas as noites e, pela manhã, pulavam às escondidas a janela da casa da avó dela para tomar banho. Ah, Michael também vivia em permanente estado de paixão por uma mulher, uma de cada vez, e todas sempre belas, chiques, extravagantes.
Tinha um “look” próprio: o lenço de pirata amarrado na testa. Um “pirata do Caribe” navegando perigosamente nas águas frenéticas deste aquário social-pop-boêmio que é a Baía da Guanabara, volta e meia atracando em Londres, nas raves da Espanha ou onde mais houvesse risco e trepidação.
Sua missa de sétimo dia lotou a Igrejinha da Urca. Parecia a missa de um carola. Uma confraternização de boêmios transgressores e socialites comportados, que, como ponto comum, tinham a admiração pelo texto inteligente do, mais que jornalista, escritor de uma época. Pena que de forma tão inconstante, por força de seu próprio temperamento.
A Snapshot da Harper’s Bazaar, importante homenagem e merecida
Koellreutter e uma de suas boas amigas do Rio, Tania Caldas
Soube, o conheci muito em Salvador e na Interwiel.
Bjsssssss