Calem-se, vocês, palavras – shut up! – recolham-se à insignificância de mera abreviação.

O que é e o que aparece…

Facebook, Instagram, Pinterest, Twitter, What’s App mostram, escancaram, revelam imagens, numa exacerbação exibicionista. São fotos e fotos. Sem fatos.

Rostos, roupas, casas, carros, paisagens e festas, muitas festas. Flagrantes do cotidiano e palavras poucas, breves palavras, raras e ralas. As redes sociais decretaram a morte e o desuso das palavras. Estão démodées, foram abolidas das relações humanas virtuais. Calem-se, pois, todas vocês, palavras – shut up! – recolham-se à insignificância de mera abreviação.

Você é vc. Porque é pq. Governo é gov. Com é c/. Quando é qdo. Para é p/. Mesmo é msm. Ocupação é Oc. Projeto é proj. Hoje é hj. E vamos aprendendo a nos comunicar assim picadinho, condensando, reduzindo, encolhendo, pra tudo caber num post de 140 dígitos, no Twitter, ou em não mais que uma hashtag, se for no Instagram, com frases do tipo  #PalavrasNadaValem.

E dá-lhe foto! Muito bocão, cabelão, pernão, bração, bolsão, carrão, numa obsessiva  galeria ostentação de flagrantes, instantâneos, selfies, que, enfim, #DispensamPalavras.

O que faço eu, que vivo, me alimento, embalo meus momentos e sonhos ao balanço das palavras? O que faz você, que sorve palavras, gota a gota, tem um fraco todo especial por elas, acostumou-se a tê-las companheiras no cotidiano de sua leitura? #VocêSeAcostuma

Antes que você, leitor, perca de vez o gosto pelo relato em palavras, vou contar o caso de um jantar afetuoso, 20 amigos em torno de mesa coberta por toalha adamascada cor de abóbora, pincelada com flores em tons de bric e azul hortênsia, arrumadas em caixinhas de porcelana Vista Alegre, que se estendiam ao longo de toda a mesa, formando um longo canal de harmonia.

À mesa, fizemos o que sabemos fazer bem. Comemos, apreciando o dom da quituteira Nilma e do doceiro Anselmo. Bebemos, saudando as vinhas de Portugal e as francesas. Apreciamos as flores, elogiando o dom de harmonizá-las do artista Basílio. Conversamos, aproveitando o privilégio da cordialidade, quando tínhamos ótimos vizinhos de lugar. Ouvimos e fizemos discursos, externando o que nos ia no coração.

E como o ambiente era amigo, era irmão, falamos sem trela e sem trava, sentimento solto, a alma da oradora – uma biruta ao vento – captando a direção dos humores, olhares, lembranças de cada um, e expressando, nas palavras de seu discurso, um ‘tantinho’ do imenso que cada um representa para o grande homenageado à cabeceira. Pois costume é, quando se trata de homenagem, ceder o lugar de honra – o do anfitrião – à pessoa celebrada.

E o depois: cafés, conversas, licores, conversas, chocolates, conversas, um digestivo, conversas, a noite é uma criança quando se está perto de quem se gosta demais…

Foi assim o jantar para Carlos Alberto e Beth Serpa, que representam um ‘tantão’ de querer bem para cada um de nós, os demais 18 naquela mesa cor de abóbora, cortada por uma estrada florida bric e azul…

Mesa cor de abóbora, cortada por uma estrada florida bric e azul…

Duas divas nesse ângulo da mesa: Christiane Torloni e Yara Andrade

Maria Rita Novellino e padre Edivino combinaram no preto

Apreciamos as flores, elogiando o dom de harmonizá-las do artista Basílio. Aparelho inglês azul Wedgewood no tom das hortênsias.

Monica Clark entre Jair Cozer e o professor Pietro Novellino. Monica Clark, bem informada, vestiu abóbora, cor predominante do jantar, e a que lhe cai melhor

Maninha Barbosa e Sergio Clark. Na extrema direita, Beth Serpa, homenageada.

Ruth Niskier, Marcelo Calero e Christiane Torloni

Nélida Piñon, Roberto Halbouti e Ruth Niskier

Padre Edivino e Christiane Torloni

Hilde Angel

Pietro Novellino e Sérgio Clark

O homenageado Carlos Alberto Serpa e Roberto Halbouti

Yara Andrade e Nélida Piñon

A esticada pós-jantar, no sentido anti-horário: Mariza Coser, Beth Serpa, Marcelo Calero, Maninha Barbosa,  Maria Rita Novellino, Monica Clark e Ruth Niskier

Maria Rita Novellino e Maninha Barbosa

Arnaldo Niskier e Jair Coser

Ruth Niskier e Monica Clark… enquanto Francis vem aí com o café expresso

Fotos Mr. A.

2 ideias sobre “Calem-se, vocês, palavras – shut up! – recolham-se à insignificância de mera abreviação.

  1. Hilde querida: como você escreve bem!!!!!!!! Sempre um prazer. Aqui de longe me delicio com a sua prosa…
    um beijo grande aqui de Paris onde já estamos há mais de um ano e onde o falar e escrever bem ainda não caíram em desuso,
    Patricia

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