A Canada Olympic House House é um dos mais bem guardados segredos da Rio 2016. Ela não está aberta ao público. Nem mesmo ao pagante. Apenas muito poucos convidados têm acesso.*
A Canada House foi basicamente concebida, pela Canadian Olympic Foundation, para os familiares dos atletas passarem seus dias durante as Olimpíadas, em ambientes especialmente produzidos com este pensamento. Lá eles assistem aos jogos, torcem, convivem, fazem suas refeições, muitas vezes com os filhos atletas, e às 11h da noite retornam aos seus hotéis – a maior parte se hospeda em ‘bed&breakfasts’ próximos, na Zona Sul. Iniciativa muito inteligente, pois também dá aos jovens competidores a necessária tranquilidade de saberem que seus pais e irmãos estão bem instalados e assistidos pelo seu próprio país. Touché, Canadá!**
A Canada House é uma permanente festa da juventude, um congraçamento
contínuo dos atletas com suas famílias. Mais do que o espírito olímpico, ali está o vigor espiritual de um povo construído sobre firmes valores, que prestigia a cultura da essência, não a do desperdício. Ali está, naqueles metros quadrados, com a vista que se precipita sobre o deslumbramento da Lagoa Rodrigo de Freitas, a síntese dos valores canadenses.
Durante dois anos, o governo canadense fez obras adequando as instalações da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) a esse propósito. O investimento, de valores não revelados, foi alto, apesar de muitos apoios preciosos, como o do escritório de interior design, um dos mais conceituados do Canadá, que nada cobrou para conceber os ambientes, que valem mesmo um visita dos profissionais cariocas da área. Jogando com as cores da bandeira, o vermelho e o branco, ele nos envolve desde o túnel da entrada, e nos leva a um foyer da recepção e a uma loja com produtos que celebram a participação canadense na Rio 2016. O primeiro impulso é comprar todo o uniforme vermelhinho da delegação… o blazer, oh!…. os sapatos, ah!… a écharpe, wow! – bem, levei só a écharpe, porque com o dólar tão alto não deu para fazer extravagâncias…
A escada em caracol, que leva ao segundo andar, onde tudo acontece, é decorada com remos das típicas ‘canoes’ canadenses. Aquelas dos aborígenes, que a gente costuma ver no cinema. Estão pintadas com a folha vermelhinha de mapple da bandeira do país, aliás, quase tudo está decorado com a mapple leaf, e vocês hão de convir que é um dos mais simpáticos símbolos que uma bandeira pode ter.
Lá em cima, um varandão, com o piso coberto de grama (sintética) em alusão aos prados do Canadá e as típicas cadeiras de madeira Muskoka (também chamadas de Adirondack chairs), com recosto e assento inclinados – um design canadense clássico, geralmente usado ao ar livre. Elas estão patinadas de vermelho degradé.
O clima é alegre, descontraído, esportivo, de bermudas. Todos em casa. Na Casa do Canadá.
Para as reuniões do comitê esportivo, patrocinadores, entrevistas coletivas, foi providenciado um grande salão cercado por portas de vidro deslizantes, cobertas até o chão por cortinas de seda pura franzidas, na cor areia, e como mobiliário apenas imensa mesa de madeira maciça, larga, cercada por 30 cadeiras austríacas. No teto, a luminária são galhos secos de árvore de mapple (a da bandeira!) pintados de branco. Único detalhe. Sobriedade. Elegância, elegância, elegância.
Os atletas estão chegando. Somos chamados ao grande salão-auditório, onde num telão enorme os convidados assistem aos jogos, em pufes e sofás. E lá vem a rapaziada acompanhada do mascote, um big Moose (alce canadense), que é símbolo do país. Rapazes e moças, abraçados ao Moose peludo, parecem crianças, fazem caretas, posam pras fotos, uma delícia ver assim os jovens ídolos de um país tão grande e importante, divertindo-se com tal simplicidade e de modo saudável, junto aos pais, famílias, amigos, a comunidade canadense no Rio, e nós lá, recebendo as gentis informações de Cherry Ye, Media Relations, e Dianne Hilliard, National Development Manager, da Fundação Olímpica Canadense.
A chefe da delegação olímpica sobe ao palco (há um palco!) e anuncia um por um. Ainda não havia medalhista entre eles (depois houve), mas cada um é aplaudido como se já tivesse um big ouro cintilando no pescoço. Eles são adoráveis. Alguns discursam. E, no fim, para demonstrar que as eventuais vitórias não são individuais, não são mérito apenas do esporte, mas principalmente do país, eles, empertigados, alguns com a mão no peito, fervorosos, compenetrados, patriotas até a medula, cantam seu Hino Nacional:
“Ó, Canadá! / Nossa casa e terra nativa! / O verdadeiro amor patriota guia vossos filhos / Com corações fulgurantes nós vos vemos crescer / O verdadeiro Norte, forte e livre! / Do mais longínquo à sua vastidão, ó, Canadá / Ó, Canadá, nós ficamos de guarda por vós! / Deus guarde nossa terra gloriosa e livre! / Ó, Canadá, nós ficamos de guarda por vós! / Ó, Canadá, nós ficamos de guarda por vós!”.
Vale a pena dizer que, por trás de tudo isso, discretamente, sem se revelar, está mais um canadense até a medula, cujo esporte é pedalar de bike na ciclovia, do Leblon até seu escritório no fim do Leme, o cônsul-geral do Canadá, Sanjeev Chowdhury, que, sem deixar de ser canadense, soube também adquirir os hábitos cariocas.
*Acabo de saber que a loja do Time Canadá na Casa Olímpica do Canadá agora está aberta ao público, de 11 da manhã às 5 da tarde, diariamente, até o domingo dia 21 de agosto. São coisinhas im-per-dí-veis. Eu recomendo. Vejam os uniformes nas fotos, wow!
** Este item é importantíssimo. Cobri a Copa do Mundo em Paris e vi como nosso time ficou desestabilizado sem saber onde estariam acomodadas suas famílias, sem conhecer o idioma local, como elas iriam para os estádios, SE iriam etc., por absoluta falta de apoio da CBF. Enquanto isso, os boca livres…
Canadá soube conservar muito bem a sua cultura desde do tempo dos exploradores europeus, e apesar de sua autonomia e é o mais desenvolvido das Américas que ainda mantem laços familiares com o Reino Unido e a França, não só nos idiomas bilíngues, que incluem a preservação dos seus patrimônios históricos e o respeito as nações indígenas.
Enquanto que no Brasil renegam até o sangue com os seus ancestrais europeus, quer sejam portugueses ou espanhóis. Quanta diferença com a nossa realidade, que como sempre, continuamos colonizados e explorados. Muitos dos Coxinhas se acham mais americanos de Miami, e se esquecem que os norte-americanos apagaram de suas memórias que um ente familiar possa ter vindo de um britânico, irlandês ou escocês.
Dona Hilde, postei dois comentários sobre Marta Rocha. O primeiro, lembrando fato ocorrido em 1954. O segundo, sobre outro fato em Paris na década de 80. Hoje, fiz lá um pedido. Peço à senhora que me atenda, por favor. Os motivos estão explicados na curta exposição que fiz.
Att.
Jorge Béja
Dr. Béja, tenho tentado contato com Marta, mas sem sucesso. Sua saúde não está boa. Caso eu consiga falar com ela, lhe darei a resposta. Sinto não poder contentá-lo com a presteza que o senhor bem merece. Meu abraço.
Cara Hilde, é isso aí, o Canadá, os canadenses, não cansam de ser diferentes e é sempre um diferencial exemplar, o único tradicional dos 7+ que foi campeão de IDH, é sempre bom ver qualquer coisa do Canadá. Abraço ALS.
Uma pena que nosso amigo Consul Sanjeev vai nos deixar…
Gostei muito desta postagem .Realça o que muitos já sabem: Canadá é um país que foca na perfeição tanto social como humana ou seja uma nação com valores invejáveis.
É preciso lembrar que todos estes valores do Canadá, toda esta esportividade, sem baixo nível, verdadeiramente fidalga, deve-se ao fato de o Canadá ser formado de sangue inglês misturado ao francês, “very British na formação” e “bien Français no requinte”. É preciso lembrar que o Canadá é uma Monarquia. Com toda sua independência, não quis desligar-se da Commonwealth Britânica de Nações, tendo como Chefe de Estado a Rainha Elizabeth II. Não foi dito no artigo, mas lá deve haver também o portrait de Sua Majestade.