Foi um encontro inédito. Em volta de uma longa mesa de jantar, as várias lideranças artísticas do Rio de Janeiro, as mais expressivas, representando diferentes seguimentos da cultura, ouviram o novo secretário – empossado há quatro dias – de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, deputado André Lazaroni, e todas elas, individualmente, colocaram suas preocupações, propostas e necessidades.
De pé, na cabeceira, o secretário Lazaroni fala na mesa de jantar para aqueles realizadores que alimentam o estado com suas produções, sua coragem e sua criatividade
Amir Haddad, o grande pensador da cultura, que há décadas inaugurou a proposta do teatro a céu aberto, ganhando as ruas, praças, os parques com o seu grupo Tá na Rua, foi o primeiro a falar, identificando a grande transformação que se opera na civilização e na cultura mundial, com os dominados galgando as posições de domínio. Seguido pela atriz e produtora teatral Christiane Torloni; por Kiko Afonso e Daniel de Souza (filho do Betinho), da Ação da Cidadania, anunciaram que deixaram o assistencialismo, depois de terem contribuído com suas campanhas para tirar o Brasil do Mapa Mundial da Fome, e partiram para formação e capacitação através da cultura, “que é o braço civilizatório”.
Amir Haddad, o primeiro a falar, tendo ao lado Kiko e daniel, da Ação Cidadania, e na frente de Myrian Dauelsberg, Roberto Halbouti, Dalal Achcar e Elisa Lucinda
O produtor cultural pioneiro, Fernando Portella, do Instituto Cidade Viva e da gestão do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, talvez o nosso mais intenso realizador cultural, propôs uma legislação específica para os projetos que têm continuidade, repetem-se a cada ano. Dalal Achcar, do Balé Dalal Achcar, nos lembrou as lições de sabedoria de Darcy Ribeiro. Do Nós do Morro, Luciana Bezerra e Guti Fraga, que reclamou ninguém trabalhar a memória do teatro.
Arte popular, urbana, erudita, tudo junto e misturado. Veio a Myrian Dauelsberg, a dama das grandes produções da ópera e das orquestras, que nos trouxe Pavarotti, Placido Domingo, Zubin Mehta, e ofereceu seus préstimos e de sua Dell’Arte; Renato Saraiva, do Festival Panorama de Dança, lado a lado com o Julio Ludemir, da Flupp – Festa Literária das Periferias do RJ – e da Batalha do Passinho mais a decana dos museus do Rio de Janeiro, Heloisa Lustosa, presidente da Academia Brasileira de Arte, e o escritor Victorino Chermont de Miranda, também do Instituto Histórico e Geográfico e do Pen Club. Que elenco extraordinário e pródigo em contribuições, ali, generosamente expondo suas experiências ao neo secretário Lazaroni!
Myrian Dauelsberg, ladeada por Dalal Achcar, Elisa Lucinda, Clorys Dale, Guti Fraga, do Nós do Morro. Atrás, Celina de Farias
Na outra cabeceira, a presidente da Academia Brasileira de Arte, Heloisa Aleixo Lustosa. Rosa Magalhães, Guti Fraga, Clorys Dale, do teatro de bonecos. Atrás, Julio Ludemir, da Flupp, e Renato Saraiva, do Panorama da Dança.
Ah, presente também uma das pioneiras do Teatro de Bonecos no país, 60 anos militando nessa arte, conselheira da Associação Rio de Teatro de Bonecos, Clorys Dale. Compareceu a Christine Nicolay, fundadora da primeira galeria da arte urbana da cidade, no Eixo Rio, liderança do movimento do grafite. A poeta Elisa Lucinda falou de seus projetos de construção do indivíduo através da palavra. Em nome de Jerônimo Vargas, sua colaboradora, Bruna, colocou o Salão Carioca de Leitura – LER – à disposição dos projetos da secretaria.
Pelo carnaval, a notável Rosa Magalhães, imortal da Academia Brasileira da Moda, fez dissertação fascinante sobre as idiossincrasias brasileiras, desde dom Pedro I, e o relato de seu enredo delicioso, que transportará para a Sapucaí o rei de França, Luís 14, com sua corte, no carnaval da São Clemente.
O ator Leonardo Franco, dono do Solar de Botafogo, contou das agruras de ser produtor e manter um teatro, apenas com a coragem, a cara e recursos pessoais. Marcos Magalhães, responsável pelo festival de animação Anima Mundi, Gabriela Agustini, do espaço premiado Olabi Makerspace, aquele que ‘materializa sonhos’, o advogado de boa parte da classe artística, Roberto Halbouti, a cantora Andréa Dutra prestigiaram com a presença.
Marina Vieira, da Mil e Uma Imagens, produtora com atuação de 19 anos nas artes em todo o país, propôs ao secretário que sua gestão somasse à cultura sua experiência na área ambiental. Marina é quem capitaneia o vitorioso festival internacional Tangolomango, da diversidade cultural.
A conservadora têxtil Manon Salles, dedicada à Coleção Zuzu Angel de Moda, apresentou um Data Show com os trabalhos em andamento na Casa Zuzu Angel de Memória da Moda do Brasil, na Usina da Tijuca. Aplausos Gerais. Celina de Farias, do Instituto Zuzu Angel, falou de nossos quase 25 anos de trabalho de formiguinhas na moda. Este é o 95º aniversário de nascimento de Zuzu, data para ela ser muito lembrada, daí tantos projetos agora alavancados: a Casa Zuzu, o Portal, a restauração da coleção, a peça “Zuzu Angel”, de teatro. Muitos sonhos, muitas vontades.
Diante daquele leque cultural aberto, abanando para ele ventos de boa vontade e promessas de colaboração dos principais realizadores da arte no Estado, o secretário Lazaroni, mesmo na situação de penúria em que nos encontramos, retribuiu com a devida franqueza. Falou que não estava ali para enganar, reconheceu que, com o governo falido, o Teatro Municipal está na eminência de fechar, e prometeu fazer de tudo para isso não acontecer, pois, se o Municipal paralisar sua atividade será a sua federalização ou a sua privatização.
O secretário informou que seu ingresso no cargo foi resultado de uma articulação política, e afirmou: “ninguém ocupa essa função a não ser por injunções políticas”. Propôs-se a voar a Brasília para buscar recursos, nem que tenha que pedir para imprimirem papel moeda. Lembrou da importância de ter na bagagem quatro mandatos e a liderança partidária, o que ajuda muito, pois normalmente quem ocupa tal função não tem poder político. Disse ser homem de diálogo, estar à disposição, e arrematou com uma frase de efeito: “Não tenho preconceito nem conceito”.
Ao fim, retribuiu com elegância os gestos generosos e o coração aberto dos presentes: abriu sua agenda, individualmente, para cada um, assegurando que procurará fórmulas, buscará soluções.
- Para a atriz Torloni, que objetivamente reclamou dos teatros fechados do Rio – o Villa Lobos, em obras eternas, o Glória, demolido, o Manchete, interditado aos grupos teatrais pelos novos proprietários, o do Copacabana Palace, fechado “há séculos” – prometeu rápidas ações, “as que forem possíveis”.
- Para salvar o Municipal, buscará parceiros, como a Firjan ou o Sebrae.
- O novo MIS já tem em caixa os R$ 42 milhões necessários para a conclusão dos 12% da obra que restam. Mas precisará abrir nova concorrência, já que o empreiteiro responsável desistiu. André fará isso o quanto antes.
A cozinheira passava suas quiches, os sanduíches e salgados. O copeiro enchia os copos. Quem quisesse, se levantava e se servia nos aparadores. Tudo informal, sem cerimônia ou rapapés. Nada de discussões, papo político partidário nenhum. A cultura era a convidada de honra.
A presidente da Academia Brasileira de Arte, a grande dama dos museus, Heloisa Aleixo Lustosa
Casal Bia e André Lazaroni, Christiane Torloni e Juio Ludemir, da Flupp e do Passinho
Fernando Portella e Leonardo Franco
Guti Fraga, do Nós do Morro
Renato Saraiva: Panorama da Dança
O secretário André Lazaroni prometeu, se for necessário, pedir que seja impresso papel moeda para o Municipal não fechar
Marina, Daniel e Kiko, da Ação Cidadania, com Marina Vieira, do Tangolomango e da Casa Zuzu Angel
Bruna, da LER, Salão Carioca de Leitura
A turma do Data Show
Victorino Chermont de Miranda representou três instituições da cultura
Da moda, a conservadora têxtil Manon Salles e a professora Celina de Farias, da Casa Zuzu Angel de Memória da Moda do Brasil
Dame Dalal Achcar
Rosa Magalhães
Kiko Furtado e Daniel de Souza, filho de Betinho, do Ação Cidadania
Clorys Dale, 60 anos de Teatro de Bonecos, desde a inauguração do Parque do Flamengo
Focada na memória da moda e da história de Zuzu Angel, neste seu 95º aniversário de nascimento, coordenei os trabalhos da mesa
Christiane Torloni lamenta: o espaço para encenações teatrais no Rio é cada vez mais reduzido. Ao que Rosa Magalhães lembrou da lei, ainda vigente, concebida por seu pai, o imortal Raimundo Magalhães Junior, que obriga que um novo teatro seja aberto no local de um que fecha as portas.
Christine Nicolay, a primeira a enxergar a importância do grafite como expressão artística e a abrir espaços para ele no Rio de Janeiro – uma liderança
O ator Leonardo Franco foi franco: ninguém me ajudou
Andréa Dutra reclamou a ausência de espaços para a música, o fim do Canecão e propôs os eventos musicais a céu aberto por todo o Estado do Rio de Janeiro
Maria Célia Moraes, tia do secretário Lazaroni e uma eficiente co-mediadora na mesa do encontro, Claudio e Myrian Dauelsberg e a jornalista
Luciana Bezerra, do Nós do Morro, e Elisa Lucinda com sua produtora, Giovanna
A primeira-dama Bia Lazaroni, Himallaia, assessor da secretaria de Cultura, Amir Haddad, do Tá na Rua, e Kiko Afonso, da Ação da Cidadania
Francis Bogossian, vice-presidente do Instituto Zuzu Angel, e Roberto Halbouti, advogado do meio literário, da indústria fonográfica e do show business
Fotos de Sebastião Marinho
Uma noite especial com pessoas especiais, sob o comando da agregadora cultural Hildegard Angel! Parabéns, Hilde!