Cariocas ou não, os LPR (Loucos Pelo Rio), que passam pela fachada do ainda inconcluso Hotel Emiliano, na Avenida Atlântica, se indignam: “O que é isso? Um hotel com a fachada toda tapada!”; “Deixaram só o buraco da fechadura pro turista espiar o mar de Copacabana!”; “Por quê não construíram o prédio logo de costas, se era pra esconder a praia?” (NR: Há, aliás, precedente – o Clube Flamengo foi construído com sua frente de costas para a Lagoa Rodrigo de Freitas, mas isso foi erro na execução do projeto dos Menescal).
Um mais entendidinho arrisca: “Deve ser a “cheese grater aesthetics” (Estética do Ralador de Queijo), a mesma que usaram os arquitetos americanos do novo Museu da Imagem e do Som. Que em síntese quer dizer ‘quem quer vista pode ralar daqui’ ”.
A Estética do Ralador de Queijo
Enganaram-se todos. Na verdade, a fachada de buraquinhos, concebida pelo arquiteto Arthur de Mattos Casas, consiste em amplos janelões que se abrem, descortinando a vista espetacular, através de portas-paredes de vidro, sem qualquer interferência.
Arthur de Mattos Casas
Entre as portas-paredes de vidro e os janelões-ralador há uma varanda com uma sacada de vidro, que permite uma faxina constante e segura dos vidros, mantendo o padrão impecável de limpeza, marca do Hotel Emiliano.
A visão dos quartos será total e espetacular, ainda possibilitando limpeza frequente e segura da parte externa dos vidros. Visão da fachada com algumas janelas abertas
No hotel de São Paulo, há também a preocupação do vistão, com grandes janelas contemplando a Oscar Freire e suítes com vista 180º da cidade. No Rio, bastará olhar em frente e se deliciar com a mais linda das princesas, a Princesinha do Mar.
É claro que os turistas daqui vão ter também aquelas coisinhas fofas que todos adoram em Sampa, como o Champagne Bar Caviar, os banheiros com assento japonês, controle de temperatura e bidê eletrônico e os travesseiros com plumas de gansos húngaros – eles têm que ser húngaros, hein, digo qüen!
Porém, e para a alegria geral da vizinhança, não vão ter o heliponto! No lugar dos helicópteros barulhentos, quem vai pousar em sua cobertura ensolarada serão celebridades, como Gisele Bündchen (espera-se, pois ela costuma eleger o Emiliano quando vai a SP), em torno da piscina instalada lá no topo.
Ah, também teve um arquiteto americano emprestando sua prancheta ao projeto, na fase inicial: Chad Oppenheim.
Chad Oppenheim
O conceito do hotel é muito bom: homenagear o Rio de Janeiro boêmio dos anos 50, sem dúvida o período mais sofisticado e divertido que viveu a cidade, época dos anos dourados, da irreverência non chalante da Capital Federal, dos playboys, das damas refinadas, dos cafajestes inconsequentes, tudo junto e misturado. Um odor forte de dinheiro, bastante, esnobismo, requinte e a caipirice endinheirada do Brasil inteiro aportando por aqui, buscando aprender como gastar com quem de fato sabia. E aprendia!
Todo o mobiliário do hotel é de design daquele período. A começar pelo big painel de Burle Marx à entrada. Show!
Ganha o turismo do Rio. Ganha a Hotelaria 5 Estrelas. Ganha o bairro de Copacabana. Ganha a memória Carioca.
Ganham, sobretudo, os vizinhos, com a valorização de seus imóveis, num quarteirão antes de fama duvidosa, pois, apesar estar localizado no terreno do emblemático casarão do Consulado da Áustria, e de logo na esquina ter morado a Mais Bem Vestida do Mundo Elisinha Moreira Salles (Hall of Fame), o hotel fica ao lado da lendária Galeria Alaska, histórico, digamos, point alternativo de Copacabana. O que nos anos 50 chamava-se bas fond..
Bem vindo seja o Hotel Emiliano RJ!
Elisinha Moreira Salles (à direita), Hall of Fame das Mais Bem Vestidas do Mundo, viveu e conferiu nobreza ao quarteirão onde hoje se ergue o Hotel Emiliano na Avenida Atlântica. Com ela, na foto de Ronaldo Zanon, a também elegante Marlene Rodrigues dos Santos
O prédio de Elisinha na esquina, o prédio da Galeria Alaska, hoje com letreiro da Igreja Universal na fachada, e o Consulado da Áustria antes da demolição
A emblemática casa cor de rosa do Consulado da Áustria, das últimas demolidas na Praia de Copacabana
Na época do show dos Leopardos a Galeria Alaska já tinha passado por um upgrade, não era mais tão underground quanto antes